domingo, 28 de outubro de 2007

Anestézya


Era uma vez um menino. Mas um menino diferente de qualquer outro. Não porque ele era diferente do que se espera, mas diferente do que o diferente exige.

Ele tinha os olhos verdes-alaranjados, cabelo de grama todo despenteado cor azul-céu. Tinha dois olhos grandes e esbugalhados, um nariz pequenino e uma boca um tanto quanto engraçada. Não era muito alto, não era muito baixo. Era magrinho e desengonçado. Ele tinha também duas asas pequenas que não sabia usar. E ele era muito triste por isso.

Ele tentava bater as asas com a maior força possível, mas elas não conseguiam sustentar todo aquele peso. Ele desistiu, achou que as asas eram só de enfeite. Eram só para deixá-lo mais estranho... E mais desengonçado, afinal, uma de suas asinhas era um pouco maior que a outra e sempre fazia com que ele desequilibrasse.

- Mestre, porque tenho asas e não consigo voar?
- Talvez seja porque você não as tem para que sirvam para voar.

E ele triste, virava as costas e procurava algo para se distrair.

Um dia ele perguntou para seu mestre se toda pessoa tinha algo especial. Ela respondeu que sim, mas já percebendo que ele ia perguntar novamente sobre suas asas, ela já interveio:

- Mas quem sabe o seu especial não sejam seus olhos.

O mestre dele dizia que ele tinha olhos grandes porque ele podia ver coisas que outras pessoas não podiam ver.

O menino, quando passeava nas ruas percebia que as pessoas comuns não o viam. Assim como não viam as milhares de fadas que circulavam as árvores depois que chovia, que viam em busca do orvalho que descansavam nas folhas para poderem se banhar. Assim como não viam os inúmeros gnomos que ajudavam as raízes das árvores a costurarem o solo. Assim como não viam os cães contando suas novidades quando trombavam uns com os outros, ou os unicórnios que timidamente sempre tentavam se esconder em algum arbusto, mas nunca eram rápido suficientes para conseguirem não serem vistos. Assim como, os cavalos alados, que diferente dos unicórnios, adoravam se exibir para todos, e viviam brincando com o sol, adoravam entrar na frente dele para que ofuscasse todo seu brilho na camada terrestre. Assim como não viam os pequenos cavalos marinhos que voavam as costas de cada pessoa sussurrando possíveis escolhas. Assim como não viam as flores cantando umas para outras e os inúmeros vaga-lumes que circulavam sempre bem próximos do solo para se esquentarem no vapor da chuva que acabara de ir embora.

Às vezes o menino se perguntava se apenas ele via aquilo por ter olhos grandes? Afinal, ninguém mais via. Outra coisa que o menino tinha reparado era que ninguém podia vê-lo também. E como sempre, um dia ele perguntou para seu mestre:

- É porque eles têm olhos pequenos, e não conseguem te ver.

E para o menino, fazia sentido. Ninguém tinha olhos tão grandes quanto os dele.
Outra coisa que o menino percebeu é que quando ele estava triste, todos os seres do mundo paravam para observá-lo chorar. As flores paravam de cantar, os cavalos alados pousavam preocupados, os tímidos unicórnios colocavam sua cabeça para espiar atrás das árvores, os gnomos paravam de trabalhar, as fadas de banhar e os cachorros de papear e os cavalos marinhos de sussurrar nos ouvidos das pessoas distraídas.
Mas logo, tudo ficava legal de novo. O menino não chorava lágrimas, mas ele chorava sementes.
Quando as sementes caiam na terra molhada, então um bebê flor brotava, e ele todo perdido naquele mundo novo, olhava para o menino com cara de choro. O menino, vendo a inocência daquele pequeno brotinho, sorria, esquecia a tristeza e todo entusiasmado começava a contar tudo sobre aquele mundo mágico em que a pequena florzinha agora iria fazer parte.
Logo, todas as criaturas se despreocupavam e voltavam a fazer o que tinham que fazer.

O menino diferente também tinha um dom diferente. Suas orelhas eram instrumentos musicais. A todo o momento, e a todo o instante, todos os sons a sua volta eram sinfonias. Mas ele não gostava tanto daquele dom não.

Ele via as pessoas gesticulando com seus lábios, viam pessoas dentro de carros apertando constantemente algo que usavam para dirigi-los, via pessoas com expressões intensas, mas, ele não as ouvia, e ele sempre quis ouvi-las, queria também ouvir o que elas ouviam, e queria que elas ouvissem o que ele ouvia. Como sempre, ele foi perguntar para seu mestre:

- Mestre, porque não posso ouvir os sons que as pessoas fazem?
- Talvez seja porque elas não fazem som algum. Ou talvez seja porque você não precisa ouvi-las.

Mas o menino queria ouvi-las. Assim como queria voar. Assim como queria que elas o vissem.

Um dia, determinado a conseguir tudo que queria, ele traçou um plano, iria dar um jeito de ouvir tudo que elas faziam, iria voar e iria ser visto.

Então o menino foi no bazar de um mágico renomado do seu bairro, comprou um trambolho estranho para suas orelhas que traduzia todos os sons das pessoas, algumas penas a mais para poder equilibrar suas asas e um óculos que fizesse com que seus olhos ficassem maiores e que fizesse com que ele pudesse ser visto.

Primeiro ele colocou o trambolho todo estranho nas alças de sua orelha e ficou completamente injuriado. Os cachorros gritavam, os carros faziam um barulho completamente irritante, elas falavam rápido, outras gritavam, em toda aquela confusão de barulhos, ele se esqueceu de tirar aquele aparelho mágico e logo em seguida colocou os óculos.

Tudo se tornou cinza, as fadas sumiram, os cavalos alados desaparecem, os unicórnios, pela primeira vez foram rápidos suficientes para se esconder, os gnomos nem deram sinal de vida. E os cavalos marinho? Que cavalos marinhos?

Mas ele percebeu que agora ele era visto. Porém continuava a não ser notado. A diferença e que as pessoas olhavam para ele e desviavam de sua reta, algumas encaravam seus olhos, outras se incomodavam com um “obstáculo” no seu caminho, outras simplesmente continuavam a ignorar sua presença ali. Até que então, uma pessoa veio em sua direção com um óculos parecidos com o dele, mas eles eram negros e espelhados, e ao passar ao seu lado, o menino viu seu reflexo.

Ele não era mais como antes. Agora ele estava normal. Seus cabelos tinham um aspecto marrom, não era mais tão magro, seus olhos escureceram assim como diminuíram de tamanho, e ele não estava mais desengonçado.
Assustado, ele quis fugir dali, queria tudo que pertencia ao seu antes de volta. Perdido naquele cinza e sem graça todo, ele esqueceu de tirar seus óculos. A primeira alternativa foi consertar suas asas e voar para longe dali.

Até que ele percebeu que não tinha mais asas. Tateou suas costas e elas não estavam mais ali. Ele entrou em desespero. Vendo que não havia mais alternativas, agachou e chorou. E ele não chorava mais sementes, chorava gotas pesadas e geladas de lágrimas, que tocavam o solo e eram absorvidas, sem nada que acontecesse depois.

O menino chorou, profundamente. Esqueceu do trambolho em suas orelhas, esqueceu dos óculos e esqueceu-se das asas. Tudo aquilo que ele não conhecia deixou ele em choque, mas uma coisa ele ainda acreditava. Que era no tempo. Esperou para que tudo voltasse ao normal.

Mas, um garoto diferente dele veio em sua direção e agachou-se fazendo com que seus olhos ficassem alinhados com os dele.

- Onde estão os unicórnios, os gnomos, as fadas, os cavalos alados, onde todos estão? Porque os sons não são mais músicas, porque não tenho mais minhas asas? Porque minhas lagrimas não me fazem mais feliz. Porque você e todas as outras pessoas podem me ver agora? – o menino angustiado perguntou.

E o garoto respondeu:

- Calma, eu acredito em você.

O menino:

- Acredita em mim? (Como assim, ele acha que estou mentindo? – pensou ele)

O garoto tirou os óculos do menino e esmigalhou em pedaços, tirou seu trambolho auditivo e o atirou no ar. Logo começou a olhar para o vazio, como se o menino não existisse. Olhou para sua volta, e novamente voltou a olhar onde o menino estava. Um lágrima pesada percorreu seu rosto, caiu no chão, e o solo a absorveu. Ele se levantou e continuou seu caminho.

Tudo voltara ao normal.

- Mestre, porque um garoto pode me ver e fez com que eu voltasse a ter tudo que tinha como agora? Porque outras pessoas não fizeram isso, e porque eles vêem e ouvem tudo muito diferente?

- Porque eles não conhecem o especial deles. Mas o garoto conhecia.

- Mestre, posso trazê-lo comigo, ele pode ser como eu? Eu quero que ele seja meu amigo.

- Ele já é como você, mas para que ele seja, ele não pode ouvir como você, ele não pode ver como você. Para que ele seja como você, você não pode existir.

- Entendi... Que bom que possa ser assim então, o “lado” que ele vive não é legal.

- Ele sabe disso e conta com você. Agora esqueça esse episódio e volte a dar atenção aos gnomos, fadas, unicórnios...

Mas o menino, apesar de toda a explicação, estava meio triste com o que acabara de acontecer. Ele pensou como aquele garoto vivia em algo tão ruim, e como ele, menino, vivia em algo tão bom. Porque os dois não podiam viver em um mesmo sentimento?
Ele se sentiu responsável agora. Estufou o peito e olhou com cara de sério, ele tinha que não existir para que o garoto pudesse ser como ele. Então ele iria fazer com que isso acontecesse, afinal, aquele garotou fez voltar tudo que o menino tanto amava.

Nem por isso, toda a responsabilidade, distraiu o menino de sua tristeza. Até que ele cambaleou. Novamente suas asas fazendo com que ele se desequilibrasse.

Todas as criaturas a sua volta, deram uma simpática risada de seu quase tombo, e ele vendo seu deslize e se sentindo timidamente envergonhado, deu risada.

As criaturas riram mais alto, e ele gargalhou. Tinha sido muito engraçado. Sem esquecer de sua responsabilidade, ele distraiu sua tristeza, e pensou: Pelo menos elas me fazem rir.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

A Conveniência Dos Acentos

É conveniente ter acento no cu?
Vejamos pelo lado da semiótica

Do cu sai fragmentos, assim como outras pessoas enfiam fragmentos no cu.
Nesse caso, o acento seria completamente conveniente. A letra u, se assemelha à um reto, que, antes do cu, está presente. Portando, o sentido do cu estaria entre o fim do u e o acento, daí encontramos um ícone representante do cu.

Nu. Seria conveniente que nu não tivesse acento, se todos os seres humanos fossem mulheres.
Mas, existem uma variedade de produtos no mercado, como homens e trangeneros.


Proposta:
O acento no nu, poderia simbolizar um estado ou situação de que o praticante do ato estivesse.
Assim como nú, seria para um homem em estado normal. Nù, poderia servir para um homem na presença de uma mulher nu. Ou mesmo, nù serveria para um gay vendo outro homem nú ou nù. Podemos adaptar também em casos especias, como por exemplo, nü poderia servir para transgeneros. Mas daí fica complicado expressar o estado do atuante.

Deixe sua opinião sobre a conveniência do acento nas palavras nu e cu.


(ps: esse texto não é para ser levado na brincadeira, pois faz todo o sentido)

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Um dia agente aprende...

Um dia agente aprende...

Escrevo isso, com o meu baixíssimo repertório de 18 anos de vida.
Um dia agente aprende que nem tudo que agente acredita é real.
Um dia agente aprende que nem sempre o que você achava que iria agradar, agradou.
Um dia agente aprende, que as pessoas não esperam de você o que você tem de melhor a oferecer, mas o que elas querem que você ofereça.
Um dia agente aprende que você pode tentar fazer de tudo para ajudar, mas que na maioria das vezes, tudo que você recebe em troca, é a indiferença.
Um dia agente aprende que não existe papai noel nem coelhinho da páscoa.
Um dia agente aprende que sempre tem um escroto para destruir a melhor de nossas fantasias.
Um dia agente aprende que sangue familiar não é garantia de confiança.
Nem de segurança.
Nem de carinho.
Nem de amor.
Mas de dinheiro...
Um dia agente aprende que não adianta tentar mudar os outros, eles preferem que a vida os mudem, e de uma maneira muito pior.
Um dia agente aprende que cada um vive em uma realidade.
Um dia agente aprende, que a realidade de muitos, são uma mera ilusão de auto-defesa.
Um dia agente aprende que muita gente precisa depreciar você para se sentir melhor.
Um dia agente aprende que seus melhores amigos nem sempre vão ser os que vão te acolher.
Mas um dia agente aprende que são seus melhores amigos que vão sentir ódio e tomar suas dores.
Um dia agente aprende que existe inveja.
Um dia agente aprende que existe carência de atenção.
Um dia agente aprende que existe amor.
E quando agente aprende a amar...
Um dia agente aprende que não é normal você ter mais afeto pelos seus animais do que por muitas pessoas da sua família.
Um dia agente aprende que agente não se importa, por mais anormal que seja.
Um dia agente aprende que amar não é ser amado.
Um dia agente aprende que a vida é muito mais amarga do que se imagina.
Um dia agente aprende que o belo não é o estético, mas o emocional.
Um dia agente aprende que por mais clichê que seja, é a mais pura verdade.
Um dia agente aprende que ter tudo o que quer, nem sempre é sinônimo de felicidade.
Um dia agente aprende a indiferença.
Outro, o indiferente.
Um dia agente aprende ter raiva.
Outro, transformar em ódio.
Um dia agente aprende que existem coisas boas no mundo.
Outro, a ilusão. E outro, mais outro.
Um dia agente aprende que tem gente que não aprende.
Um dia agente aprende que existe só uma pessoa para se amar e contar no mundo.
Um dia agente descobre que esse alguém é você mesmo.
E um dia agente aprende que o mais belo nisso tudo, é que agente não aprendeu nada ainda.
Porque tudo isso não se aprende.
Mas que a vida ensina, ela ensina.