domingo, 18 de novembro de 2007

Manual de Instrução


É engraçado como nós, seres humanos, buscamos a felicidade. Mesmo que estejamos completamente cegos de como fazer isso.

Essa foi a primeira frase daquele menino tão frágil que se sentava na poltrona na sua primeira terapia. A primeira frase, de um longo monólogo.

É engraçado como acreditamos sempre estarmos fazendo o melhor para nós mesmos, mas é incrível como ignoramos a nós mesmos, e falamos por nossas emoções. Agora eu pergunta, seria nossas emoções nós mesmos?

Agente tenta, agente busca, mas quem sabe, agente encontra? Quem sabe, agente encontra.

Eu gosto de várias coisas, gosto de acordar cedo em ambientes bem iluminados, gosto de comer melancia com fanta-uva, gosto de dormir com minha cachorra come tivesse abraçado com um travesseiro. Apesar de gritar com ela, adoro quando ela enfia o focinho em minha orelha. Gosto quando me elogiam, gosto de chorar, chorar de rasgar o peito, de soluçar, e de fazer isso, quando ninguém está olhando.

É engraçado como nossa felicidade depende de detalhes. E um amor? É um detalhe? Ou o protagonista?

É engraçado, como na maioria das vezes, nossa felicidade se importa com as dos outros?
Porque precisamos de nossos pais felizes para sermos felizes?
Porque precisamos de nossos amigos felizes para sermos felizes?
Porque precisamos de algo para sermos felizes?
Porque existe felicidade? É porque existe tristeza?
E quem veio primeiro?

É engraçado como lutamos para fazer com que as coisas aconteçam, ou não aconteçam. Como no meu caso.

É engraçado ver mães que levantam caminhões para salvarem seus filhos. Homens que usam seus corpos como escudos perante a imensos barcos pesqueiros, a fim de proteger as baleias.

São pelas baleias? É por uma causa? Ou é por ele mesmo?

Será que cada um já parou para se perguntar se tudo que faz é por si mesmo? E quem determinou que isso, é por si mesmo?

Somos manipulados talvez. Ou viemos para o mundo, em branco, e nós mesmos escrevemos cada palavrinha em nossa vida.

Existem mãos terceiras que escrevem por nós também? Ou somos nós que escrevemos por elas, em nossas folhas brancas?

Sempre condenei a filosofia Carpe Diem. E sempre me condenei por condená-la.
Quem sabe, se a vivesse, seria muito mais feliz?
Quem sabe, se a vivesse, não pensaria tanto nas coisas que penso.

Eu penso demais... E isso é vantagem? Quem sabe? Quem é que determina algo se algo é ou não?

O ser humano é engraçado.
Cria critérios, nunca existentes.
Se baseia em leis, nunca provadas.
Crêem em mitologias, muitas vezes, infundadas.
Dependem emocionalmente, do inemocional.
Dependem fisicamente, do emocional.

Dependem.

O lance da hora é qual então? Independência?
Quem determinou isso?

Talvez, se as pessoas acreditassem que não existe essa regra, e que a palavra determinou foi determinada por alguém que começou a determinar coisas, elas seriam por si só e por si mesmas.

Ah, se fosse só universo.
Mas ele é repleto de estrelas.

Ah, se fosse só o ser humano.
O animal, instintivo, ser humano.
Mas não... somos SERES HUMANOS.
Dependente do universo repleto de estrelas.

É engraçado.
É lindo.
É triste.
Somos nós.

Agora, quem sabe você não determina o que é bom para mim. Já que eu, que desisti de acreditar na determinação, na sei mais determinar os caminhos da minha vida.

Queria acreditar que as coisas são simples, ou ser como todos os outros da minha idade.
Queria me sentir lindo pelo meus traços físicos, queria me sentir feliz pelos amigos que tenho, pela casa que moro, pela minha família, pelas minhas crenças, pela minha melancia com fanta-uva, e pela minha cachorra/travesseiro.

Queria ser um cachorro. Que não é determinado e que a única coisa mais importante do universo todo, é a hora que seu dono chega em casa.

Não existe bronca, não existe raiva, não existe racional. Nessa horinha do dia, é todo o emocional explodindo em latidos.

É engraçado como o mundo todo funciona.
Se viemos da evolução de micronanominiparticulas ou de Adão e Eva.
É engraçado o que somos, o que nos transformamos e o que iremos nos tornar ainda.

E é engraçado, que apesar de dizer, e saber, e raciocinar e sentir tudo que disse, a única coisa que eu quero é determinar que cair nos braços amados em um campo limpo num dia lindo de verão, é tudo que eu preciso para ser feliz.

Não sabemos o que determina o que é certo ou errado. Não sabemos se o que estamos fazendo é exatamente o mais correto, mesmo porque, não sabemos o que é o correto.
Mas sabemos determinar a única coisa que não se determina, que é o que nos faz feliz.

Independente de raça, cor, cultura, dinheiro, lugar...
Quando o não determinado, determinar, é só isso que iremos desejar para nossa vida.

E passível, o garoto se levantou, e deixou a sala de sua terapeuta.
O próximo “paciente” já esperava ao lado de fora, com uma perna impaciente, carregado de novidades para serem determinadas em sua vida.

...


Video e Texto por:

/ares - neotemporaneo.blogspot