sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Domingo

Meus passos ecoam no chão de concreto da Paulista.

Desde que ele foi embora, todos os sons morreram... deixaram de fazer sentido. Tudo que escuto agora é mera figuração na minha vida. E ela, é mera figuração para todo o resto.

Lembro a todo instante quando estavamos juntos, era tudo muito diferente. Lembro de como eu via a vida de maneira tão mais alegre e tão mais... próxima.

Mas o perdi para as sombras, para o cotidiano, para ninguem.

Não sei de quem é a culpa dele ter partido. A todo instante penso como as coisas seriam se tivesse com ele do meu lado. É, no fundo, sei que a culpa é minha, mas meu orgulho permite que eu passe um pouco dessa culpa para o resto do mundo.
Os rostos frios que cruzo no dia-a-dia. A conquista sem recompensa, um sorriso não dado na hora mais esperada. As obrigações descobertas depois de cumpridas. O sexo, simplesmente o sexo. O melhor produto pela embalagem. O fator decisor sem motivo de escolha. O todo sentido, sem sentido algum. Não foi só culpa minha.
A culpa só está na parte em que deixei tudo isso me tomar.

Sinto falta de você, nos meus momentos mais felizes. Na hora de traçar futuras escolhas. Planejar a vida dalí alguns anos. Escolher como seria o nosso apartamento, que cachorro teriamos, e onde iriamos trabalhar.

Mas agora te perdi.
Perdi nessa cidade, nessa vida, nesse mundo.
Não te reconheço mais. Você não existe.
Um espelho nunca exerceu tão bem sua função quanto antes, refletir o que se espera.
Antes, podia ver agente. Agora, vejo apenas alguem.
Perdi meu eu.

Não me reconheço mais, desde que você foi embora.
O "eu" foi embora.
Não conheco mais a minha primeira pessoa.
Sei que ele está perdido em algum lugar no meu coração.
Talves, escondido em alguma sombra, com medo de tudo que existe por aí.
Sou apenas uma carcaça, uma marionete.

Antes, eu me regia.
Hoje, apenas funciono.

Mas quem sabe quando a felicidade chegar
você, meu eu, perca seu medo. E saia dessa sombra escura.
E assim, juntos, voltamos a ser quem eu era antes.